Solidar

O sol brilha intenso em outra tarde de Abril. Em particular não tenho algo do que reclamar, mas tudo me dói. Lateja, uma solidão inerente. Solidão singular, sem par, mesmo que exista em outras pessoas. Solidão que se solidifica dia após dia, através de cada respiro, tomando espaço entre as células que morrem aos poucos e são substituídas no decorrer do ritmo frenético da vida. Vivo, sorrio, tenho amigos, família, me amo, mas nada disso faz ela partir. Enquanto contemplo o verde brilhante das folhagens notórias nesta estação de despedida, recordo que algo se esvai de mim dia após dia. O mundo me cobra aluguel por estar viva. "Seja produtiva", ele diz. Eu sou. Às vezes no meu tempo, por vezes no dele, contudo eu sou. Em meio a tudo isso não consigo aceitar que a realidade me prende pelos pés, impedindo meu voo. Por mais livre que seja, estou cativa, é o motivo que não me permite o escape dessa solidão que se solidifica, esse solidar. Ânsia de viver e de parar o tempo. Poderia ser pior pensar que no universo sou como uma molécula localizada, entretanto, me conforta. Todas as pessoas são como eu, mesmo que não saibam disso. Ao contemplar o universo é possível entender o quanto nossas preocupações tendem a ser pífias, é caloroso. Um peso sai dos ombros sempre do recordo que a opinião de toda a gente não é nada, pois em M87 uma singularidade continua seu labor. E Plutão nem está no mapa das importâncias humanas, ainda assim segue o mesmo em seu caminho solitário. Solidão. De toda forma estamos isolados. Nossas mentes não são acessíveis. Esse é o tapa de conforto em minha escápula. Meu antolho para não perder a direção, mesmo que me perca do mapa das importâncias humanas enquanto sou coberta pela solidão. Felizmente o solidar existe, pois nos prepara para o inesperado.

Lazara Oliveira

Jataí - GO, 11 de Abril de 2021.