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Abram alas! A nova geração da Arte brasileira chegou.

  • Foto do escritor: Lazara Oliveira
    Lazara Oliveira
  • 12 de jan. de 2022
  • 8 min de leitura

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Temos vivido tempos complexos já faz alguns anos, não é novidade. Assistimos ao declínio socioeconômico do Brasil e também a uma série de atrocidades que nos tiram toda a sanidade, esperança e alegria de viver. São os fatos, não há como fugir. Contudo, em meio ao caos e desesperança que se desenrola no cenário nacional, despontou a prometida próxima geração das artes brasileiras. E veio "com força e com talento", como diria alguma letra de funk por aí. Se antes o complexo de vira-lata não deixava enxergar os talentos existentes sob a bandeira da pátria amada mãe gentil, agora, com a união entre millenials e geração Z, só o que se vê é demonstração de habilidade por todo canto. Artistas lutam por seu lugar ao sol. As plataformas digitais ajudaram a democratizar o acesso e consumo de conteúdos artísticos que são altamente elitizados no Brasil. É o ideal? Ainda não, mas estamos caminhando. Passo a passo, degrau por degrau, e chegaremos ao objetivo. No campo da música temos a ascensão do funk, do sertanejo e da nova MPB feita principalmente por artistas LGBTQIA+. As pessoas podem pensar que não há novidade nisso, mas é um engano. A quantidade de mulheres trans, drag queens e travestis em evidência nunca foi tão grande. Pelo menos não nesse lugar de pessoas a não serem ridicularizadas, mas apreciadas por sua arte arrojada que vai de um ritmo conceitual e indefinido feito por Ventura Profana, passa por Gabeu e seu pocnejo, e chega no pop funk de milhões de visualizações produzido por Glória Groove. Sabem o que as cantoras Pabllo Vittar e Anitta tem em comum? Ambas foram cobradas no início de suas carreiras por suas afinações instáveis. Porém não era realmente uma perseguição sobre qualidade musical. Anitta é uma mulher favelada que começou todo seu sucesso no gênero musical mais marginalizado desse país: o funk. As pessoas que se julgam muito intelectuais odiavam e odeiam o funk com a justificativa de ser violento e misógino. Em partes temos isso também em algumas músicas, mas não é algo que não apareça em outros gêneros musicais dentro e fora do país. O ódio ao funk vem do fato de ser música de origem preta e pobre, que vai para bailes organizados de forma paupérrima para se desestressar das cobranças quotidianas. O funk surgiu como forma de desabafo e era um derivado do rap, servia para falar sobre a vida e os sentimentos de quem estava à margem da sociedade capitalista. Vide Rap do Silva que diz "era só mais um silva que a estrela não brilha/ele era funkeiro, mas era pai de família", manifestando que funkeiros eram e são socialmente vistos como marginais e pessoas sem valor. É esse lugar à margem que aceita minorias, também à margem. O funk passou a ser mais aceito quando chegou aos ouvidos e às festas da classe média branca, caindo nas graças desse nicho. A mediação foi feita por DJs renomados. Atualmente é um dos ritmos/gêneros mais ouvidos do mundo e temos batidas de funk sendo incorporadas por artistas internacionais que desejam visibilidade. Já Anitta, que foi julgada como mulher de um hit só, faz sua fama internacional na base de muita luta, aprendendo outros idiomas e criando músicas em espanhol ou inglês para adentrar mercados mais amplos. É uma empreitada difícil. O mercado internacional é xenófobo e só absorve quem abaixa a cabeça para elementos culturais estadunidenses. Porém, para Anitta, atualmente uma grande empresária, não há barreiras. Vemos que ela teve uma evolução vocal com o passar do tempo, assim como a Drag Queen Pabllo Vittar, a quem Anitta amadrinhou no início. Pabllo, que era cobrada por sua voz anasalada devido aos falsetes dificílimos, apresentou recentemente um show virtual inspirado nos quatro elementos onde exibiu vocais muito bem executados tanto na afinação quanto no alcance. Ao vivo, notas tão altas e estáveis que fariam um anjo chorar, tudo enquanto dançava loucamente todos os ritmos brasileiros agregados em sua arte. Se Anitta subiu as escadarias da fama com funk e pop, Pabllo começou com algo no campo do tecnobrega, passou para o pop para ganhar evidência no cenário musical, o que funcionou por ser aceito nas festas brancas, e agora que a artista já ganhou mais projeção tratou de resgatar ritmos originários no norte e nordeste brasileiro. Pabllo e Anitta também tem em comum o fato de se posicionarem politicamente demonstrando consciência de classe. Pabllo disse em entrevista que se está onde está é porque muites LGBTQIA+ deram a cara a tapa antes. Anitta é famosa por amadrinhar artistas pequenas com grande potencial enquanto Pabllo nos traz atualmente um balé diverso em corpos e gêneros. Anitta por último estendeu a mão para a tik toker e cantora Ruivinha de Marte, dando visibilidade para outra marginalizada paraense. Aproveitando o gancho do balé diverso, deixo aqui uma menção à Valeska, funkeira muito injustiçada, que trouxe produções que não deviam em nada para o pop do eixo Reino Unido - América do Norte. Valeska também defendeu a diversidade ao apresentá-la no balé do MV de Beijinho no Ombro. Podemos inferir que a tendência na música nacional é valorizar elementos da cultura brasileira, pois todes artistes estão preocupades em primeiro lugar com o público brasileiro. É quem interessa e dane-se o complexo de vira-lata. Aquele forró que crescemos escutando nos rádios ou na TV é tão bom quanto qualquer balada internacional, muitas vezes até melhor. Outro setor que está caminhando para uma valorização cada vez maior da cultura nacional, lado a lado com a música, é o da literatura. Esse é um dos campos mais difíceis de todos, pois as grandes editoras nacionais mal abrem espaço para escritores do Brasil enquanto a mídia e as estatísticas mentem que no país não há leitores. A literatura estrangeira é fomentada e sempre que se fala em produção nacional, são citados clássicos de mil oitocentos e bolinhas. Não me estranhe, eu amo os clássicos, mas defendo piamente a divulgação e leitura de novos autores. Não falta nova produção. Graças às plataformas online, feitas inicialmente para divulgar fanfics de forma gratuita, escritores de baixa renda conseguiram expor seus originais e ao mesmo tempo ter contato com milhões de leitores brasileiros que não possuem condições financeiras de adquirir livros. Porque livros são sim muito caros, principalmente em um país onde mal se tem o que comer. E, ao invés de políticas de incentivo, nossos representantes públicos resolveram que taxar livros, elitizando-os ainda mais, é uma ótima maneira de seguir com esse campo. Sabemos bem que esse é um projeto de alienação, mas adio a discussão. Pois, não faltam autores independentes, de muito talento, que se desdobram pelo sonho de serem lidos ao mesmo tempo em que conservam suas raízes brasileiras, inclusive não usando pseudônimos que soem ingleses. E nesse submundo, onde vivem artistas renegados pela lógica liberal do lucro, as pessoas se ajudam e constroem suas carreiras. Autores dão as mãos na tentativa de conseguir algum alcance e de dar seu melhor para leitores conquistades. Não é incomum que o próprio escritor seja também seu revisor, diagramador e capista. Às vezes, por amizade, escritores usam seus talentos para ajudar os demais. Se sou capista, ajudo meu colega e ele revisa minhas obras. Por amizade e fé no talento de quem está na mesma luta. Publicar em uma editora é caro, então o próximo passo depois das plataformas online é a publicação independente de ebook ou formato físico. Então o escritor se desdobra no marketing e nas vendas. Recentemente a escritora Pricila Elspeth fez uma live no Instagram onde ela e colegas da escrita conversaram sobre a saga que é publicar um livro no Brasil. Achei interessante ver que falaram de muitos assuntos aqui abordados. Posso citar inúmeros escritores excelentes que conheço, que em nada perdem para os internacionais, na verdade são até melhores. Escritores que retratam Brasil e brasilidades, mas também falam sobre o exterior. Isso é talento! A abordagem de inúmeros temas relevantes e a inserção de minorias nas histórias, são o cerne dessa nova onda literária. Tudo de forma orgânica, não para vender mais, mas pelo bem da representação da vida diversa. É o retrato de uma nova realidade feita por brasileires para brasileires, principalmente. Se a literatura e a música vão nesse pé, as artes visuais não ficam para trás. Artistas independentes divulgam sua arte cheia de frescor e criatividade através de redes sociais. Tem crescido ultimamente as produções de artes digitais, mais porque materiais físicos são caros, quase inacessíveis. Além disso, o meio virtual e das redes sociais dá alguma visibilidade que artistas jamais teriam em condições comuns. Em parte por o Brasil ser um país de proporções continentais onde é complexo alcançar o público interessado, em outras pela falta de incentivo. Atualmente as escolhas são ter um perfil para se auto divulgar ou ficar no porão e rezar para ser descoberto depois da morte. Um traço forte dessa geração de artistas é a luta para o reconhecimento em vida, pois depois da morte, como é historicamente tão tradicional, não adianta muito. E novamente, nas artes visuais, temos a ascensão de mulheres cis e trans e de drag queens. Um meio machista, como todos os outros, e dominado por homens, está aos poucos se tornando território de mulheres. É a nova geração que desponta na igualdade. Muito se engana quem pensa que a nova geração tem relação com idade. É sobre tempo mesmo, pois temos produções de pré adolescentes até idosos que só tiveram oportunidade agora, mas boa parte é feita por pessoas que tiveram acesso às universidades públicas. Millenials e geração Z estão no centro dessa mudança, unides pela defesa da arte brasileira. Isso importa. Pouco tempo atrás, em meados do segundo semestre de 2021, uma blogueira achou que seria bom iniciar uma rixa entre millenials e geração Z. Um dos maiores desserviços da história desse país na atualidade. Claro que adolescentes sempre acharam e sempre vão achar que jovens adultos ou adultos são ultrapassados, não há novidade nisso. Ainda que a moda anos 2000 esteja voltando e geração Z esteja usando exatamente o que millenials usaram na adolescência, sempre vai existir uma relutância. Tudo bem, é um momento de construção de identidade, cabe respeitar. E claro que, em uma sociedade com expectativa de vida cada vez mais longa, as faixas etárias estão aumentando e sendo ressignificadas, de modo que as pressões de uma sociedade hiper produtiva não condizem com o real desenvolvimento e amadurecimento de uma pessoa. Dessa maneira, as pessoas envelhecem mais lentamente e muitos millenials sequer chegaram à idade adulta ainda. Essa briga evidenciou que o corte geracional é mal feito e não serve mais. E pior, fez com que dois importantes grupos se degladiassem por bobagem, enquanto assuntos que mereciam prioridade, como a arte brasileira, ficaram em segundo plano. Felizmente esse desarranjo teve fim e nos conectamos novamente para o crescimento do país. Diante da fome, da miséria, do genocídio, do massacre aos indígenas, das intempéries causadas pelo desmatamento, picuinhas como essas não tem lugar. Cabe falar que o cenário atual é propício para as artes devido à reclusão forçada pela pandemia de COVID-19. As pessoas passaram a consumir mais arte e entretenimento, dando nova relevância às produções. Irônico, visto que o governo brasileiro tem feito o possível e o impossível para acabar com qualquer incentivo. Por fim, pensemos no cinema nacional, um dos maiores guerreiros de todos os tempos. A censura tem impedido o filme do ator e diretor Lázaro Ramos, Medida Provisória, de estrear no país. O filme já foi premiado fora do Brasil, mas a perseguição e censura que estamos vivendo não permite que essa obra prima chegue às nossas telas. O cinema nacional que retrata periferias e lutas de minorias tem resistido bravamente por seu lugar, mas apenas comédia pastelona e romance branco consegue chegar às telonas e streaming sem nenhum percalço. É preciso manter as esperanças, pois, em tempos sombrios as mentes brilhantes e criativas resplandecem. Claro que a luta é por mais espaço e incentivo e nada vai mudar o fato de que a nova geração das produções artísticas chegou, arrastando tudo e colocando o mundo abaixo. Aos poucos vencemos o preconceito, a desinformação, o complexo de vira-lata e outros problemas. O que é produzido agora não tem precedentes em escala e vai mudar nossa história, espero estar viva ainda para ver a justiça sendo feita na morosa área da literatura, como já vejo na música. E viva a nova geração da arte brasileira que é de todes para todes! Jataí, 10 de Janeiro de 2022.

 
 
 

7 Comments


pricilaelspeth
pricilaelspeth
Jan 13, 2022

Excelente texto como sempre.

Uma baita pesquisa e palavras muito acertivas.

Vou compartilhar.

E obrigada pela citação. 🥰❤️

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Lazara Oliveira
Lazara Oliveira
Jan 20, 2022
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Impossível não citar seu nome. Tu devia ter um talk show.

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Diana Dandara
Diana Dandara
Jan 12, 2022

Sábias e necessárias palavras

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Diana Dandara
Diana Dandara
Jan 12, 2022

Continuaremos na luta e no progresso

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Lazara Oliveira
Lazara Oliveira
Jan 20, 2022
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Não desista.

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Diana Dandara
Diana Dandara
Jan 12, 2022

❤❤

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