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Portinari

  • Foto do escritor: Lazara Oliveira
    Lazara Oliveira
  • 27 de mar. de 2021
  • 2 min de leitura

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Enquanto interagia com postagens em uma rede social fui levada a recordar que certa vez li uma biografia sobre Cândido Portinari. Essa memória estava enterrada, no subsolo de minha mente, de onde adveio sutil, trazendo consigo uma avalanche de recordações. Era possível que ficasse guardada por toda uma vida se ninguém me perguntasse qual a melhor biografia que já li. Não somente ela, mas também todas aquelas sensações que tive aos dez anos de idade. Se alguém me questionasse o motivo de escolher aquele livro, eu diria naquela epoca que era porque gostava de ler. Não era. Havia muitas biografias da mesma coleção, a maioria sobre políticos e eu jamais cogitei ler alguma delas. Porém, a de Cândido - primeiro nome porque sou brasileira -, aquela parecia demasiado sedutora. Havia imagens de suas obras e uma em particular me chamou a atenção: O Mestiço. À epoca, julguei que a arte de Cândido era realmente bem feita. Rio. Fiquei encantada pela estética, pelas cores sem brilho e os ambientes sombrios. Hoje penso além, nos contextos, nas influências, no material. A estética ainda me parece das melhores, não nego. Naquele tempo de meus dez anos, li o livro deitada no chão de vermelhão, com os tornozelos cruzados e com um travesseiro sob o tórax. Agora, escrevo deitada no chão de cerâmica, com os tornozelos cruzados e um travesseiro sob os seios. É verdade o que dizem, que velhos hábitos não morrem. Que me julguem, o chão é confortável, principalmente neste dia quente em minha cidade natal. Naqueles tempos eu morava em uma fazenda aqui do município, meus pais ainda eram casados e meu irmão era uma criança de colo. Se fecho os olhos, posso sentir o cheiro fresco do lugar que tinha tinha pomar, e consigo visualizar a horta verde de variedades com pontilhados coloridos de pimentas. Ela era visível da janela do meu quarto. Também consigo ver as flores que minha mãe plantara ao redor da casa. Ela cultiva muitas em nossa casa atual também. Aparentemente velhos hábitos são sobre personalidade, por isso não mudam. Voltemos a questão: por que a biografia de Cândido? Porque as artes me são valorosas, preciosas. Por isso. Os políticos só me trazem desgosto desde aqueles tempos quando eu não saberia formular bem uma justificativa. Talvez, se considerar com minúcia, eu nem ache que Cândido é tão sensacional, contudo, é inegável que sua marca ficou gravada em minha vida - e na história da Arte brasileira. Como escritora sei que há uma certa vaidade prazerosa em marcar uma pessoa com suas obras - e sinto pela pessoa que escreveu a biografia, não sei seu nome. Só lamento que Cândido não esteja vivo para se gabar de tal feito. E quer saber mais uma coisa? Aos dez anos aprendi andar de bicicleta.


Lazara Oliveira



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Nome: O Mestiço

Artista: Candido Portinari

Técnica: óleo sobre tela

Ano: 1934

Atualmente: Pinacoteca do estado de São Paulo

Foto por: Yigru Zeltil

 
 
 

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